Ucrânia x Rússia: Drones, Usinas Nucleares e o Barulho Ensurdecedor do “E Se?”

Sabe aquele dia em que você acorda, pega o celular meio de lado, ainda com o sono grudado nos olhos, e dá aquela primeira espiada nas notícias? A gente espera o de sempre: o sobe e desce da bolsa, alguma fofoca de celebridade, o resultado do futebol de ontem. Mas hoje não. Hoje a manchete me acertou como um soco no estômago: “Ucrânia ataca com drones e provoca incêndio em usina nuclear russa“.

Parei. Li de novo. “Usina nuclear”. Essas duas palavras juntas já acendem um alerta vermelho fluorescente na nossa cabeça, não é? Se você, como eu, cresceu ouvindo os ecos de Chernobyl e, mais recentemente, assistiu com o coração na mão às notícias de Fukushima, sabe do que eu tô falando. É um medo quase primitivo, a ideia de um inimigo invisível, a radiação, se espalhando sem controle.

E agora, some a isso a palavra “ataque”. Não foi um acidente, um desastre natural, um erro humano no painel de controle. Foi intencional. Uma ação de guerra. Confesso que a primeira coisa que senti não foi raiva, nem vontade de tomar partido. Foi um cansaço profundo. Um “ah, não, de novo não”.

A Guerra 2.0 e o Tabuleiro que Ninguém Respeita Mais

Eu sempre achei curioso como a gente se acostuma com as coisas. Lembra quando a guerra na Ucrânia começou? A gente acompanhava cada movimento, aprendia o nome das cidades, ficava chocado com as imagens. Hoje, pra ser bem sincero, a notícia virou quase uma paisagem de fundo, uma daquelas coisas terríveis que acontecem “lá longe”. A gente se dessensibiliza. É um mecanismo de defesa, eu acho.

Mas um ataque a uma usina nuclear… isso fura a bolha. Isso traz o “lá longe” pra dentro da nossa sala de estar.

O que me pega de verdade é a audácia, a quebra de um tabu que a gente achava que era sagrado. Durante a Guerra Fria inteira, com o mundo dividido entre dois gigantes nucleares, existia um medo mútuo que, de certa forma, mantinha as coisas numa linha. Era a tal “destruição mútua assegurada”. Ninguém apertava o botão porque sabia que o outro apertaria de volta e aí, fim de papo pra todo mundo. Usinas nucleares, nesse contexto, eram quase santuários. Você não mexe com aquilo. Ponto.

Mas o mundo de hoje não é mais o da Guerra Fria. A guerra mudou. Os exércitos agora têm drones de milhares de dólares, operados por um garoto que parece estar jogando videogame. A guerra ficou mais assimétrica, mais… ousada. E, pelo visto, mais imprudente.

Pequenos Drones, Medos Gigantescos

Vamos pensar um pouco na cena. Um drone, um aparelhinho que até pouco tempo atrás a gente usava pra fazer imagem aérea de casamento, voando sorrateiro em direção a um colosso de concreto e aço que guarda dentro de si o poder de um sol e o veneno de mil escorpiões. É uma imagem de Davi e Golias, só que uma versão bizarra e assustadora.

A tecnologia que nos permite pedir uma pizza pelo celular é a mesma que permite que um país ataque a fonte de energia mais perigosa do outro. Isso me faz pensar em como a gente é bom em criar ferramentas incríveis e péssimo em prever as consequências de usá-las.

Lembro de uma vez, anos atrás, quando eu era moleque, que ganhei um estilingue. Meu pai me deu um monte de regras: “não atire em passarinhos, não mire em janelas, cuidado com os vizinhos”. No primeiro dia, o que eu fiz? Acertei a janela da cozinha da Dona Cida. Foi sem querer, juro! Mas o estrago tava feito. A bronca que eu levei foi histórica. A questão é: quem tá dando bronca nos “meninos” com drones e alvos nucleares? Quem tá dizendo “cuidado com a janela do vizinho”? Parece que ninguém. E a “janela”, nesse caso, é o planeta inteiro.

O Que a Gente Faz com Esse Medo Todo?

A primeira reação, a mais instintiva, é o pânico. É pensar em estocar comida, em procurar no Google “como sobreviver a um ataque nuclear” (spoiler: as dicas não são muito animadoras). Mas depois que a adrenalina baixa, a gente fica com o que? Com a ansiedade, com a sensação de impotência.

E é aí que mora o perigo. O medo constante é paralisante. Ele nos transforma em espectadores de um filme de terror, torcendo pra que o monstro não venha pro nosso lado do corredor.

Mas não dá pra ser só espectador. A gente precisa conversar sobre isso. E não é papo de especialista em geopolítica, não. É papo de gente. De pai, de mãe, de filho, de amigo. O que esse tipo de notícia faz com a gente? Como ela muda a nossa percepção de segurança, de futuro?

  • A normalização do absurdo: A gente corre o risco de começar a achar “normal” um ataque a uma usina nuclear. Daqui a pouco, vira só mais um número no placar da guerra. E isso é perigosíssimo.
  • A desconfiança na mídia: Como saber o que é verdade? O lado que ataca diz que foi um alvo militar legítimo e que não houve risco de vazamento. O lado que foi atacado fala em terrorismo nuclear e acusa o outro de arriscar a vida de milhões. E a gente, no meio, fica tentando montar um quebra-cabeça com peças que não se encaixam.
  • O impacto na nossa vida: Pode parecer distante, mas não é. Um acidente nuclear na Europa pode afetar o clima, a agricultura e a economia do mundo todo. O preço do pãozinho na padaria da esquina pode, sim, ter a ver com um drone que acertou um gerador a milhares de quilômetros de distância. Tá tudo conectado.

Uma Luz no Fim do Reator?

Soa meio dramático, eu sei. E talvez seja mesmo. Mas eu me recuso a terminar esse texto num tom apocalíptico. Seria fácil demais, e não ajudaria em nada.

Pra ser sincero, eu não tenho uma solução mágica. Não sou presidente, nem general, nem diplomata. Sou só um cara aqui, escrevendo num blog, tentando organizar os próprios pensamentos e, quem sabe, ajudar alguém a organizar os seus.

O que eu acho que a gente pode fazer é não deixar o barulho do medo abafar nossa capacidade de pensar. É cobrar dos nossos governantes, é apoiar o jornalismo sério, que investiga e não só replica propaganda de guerra. É ensinar nossos filhos sobre a importância da paz e do diálogo, por mais clichê que isso soe.

A história da humanidade é uma longa caminhada entre a nossa genialidade pra criar e nossa estupidez pra destruir. A gente já chegou perto do abismo algumas vezes e, por sorte, por medo ou por um pingo de bom senso, deu um passo pra trás. O ataque a essa usina é mais um daqueles momentos em que a gente tá com o pé na beirada.

A única certeza que eu tenho, no meio dessa confusão toda, é que a indiferença é o pior caminho. Ignorar a fumaça que sobe de uma usina nuclear, mesmo que do outro lado do mundo, é como sentir cheiro de gás em casa e decidir que é melhor voltar a dormir. Uma hora, a conta chega. E ela costuma ser bem alta.

Resta a nós, a gente pequena, continuar a fazer barulho. O barulho da conversa, da cobrança, da esperança teimosa de que, no fim das contas, a nossa vontade de viver seja sempre maior que a nossa capacidade de nos aniquilar. Tomara.

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